quinta-feira, 21 de março de 2013

[Resenha] O Incêndio de Troia

Autor: Marion Zimmer Bradley
Editora: Imago
Páginas: 517

Muita gente já deve relacionar o nome de Marion Zimmer Bradley à saga As Brumas de Avalon, talvez por ser sua obra de maior conhecimento. Contudo, a autora é dona de uma ampla gama de obras, que infelizmente não tem, hoje, o reconhecimento nacional que merece. Vários títulos escritos por ela nós podemos encontrar em estantes empoeiradas de qualquer sebo por aí, tais como os inúmeros volumes da série Darkover, que foram originalmente publicados nas décadas passadas e esquecidos no tempo em suas antigas edições. Felizmente, em 2010 a Editora Imago nos presenteou com a nova edição de O Incêndio de Troia, um volume compacto que traz os três volumes da saga: O Chamado de Apolo, O Presente de Afrodite e, por fim, A Destruição de Posêidon – em alguns países os volumes foram publicados separadamente.

Marion nos apresenta, no livro, muito mais do que a sua representação do cenário mitológico do mundo antigo, com um panteão de Deuses e Deusas pra todos os credos; ela nos conta a história de Kassandra, princesa de Troia, que abdica da vida de mulher submissa aos homens para dedicar-se somente ao sacerdócio. Durante sua trajetória, observa-se muito do que já pôde ser lido em As Brumas de Avalon, onde a protagonista Morgana também é uma sacerdotisa. Entretanto, os caminhos seguidos por elas são ligeiramente diferentes. Kassandra é separada de seu irmão gêmeo logo ao nascer, que é mandado ao monte Ida para crescer em segredo entre os camponeses. Ela, contudo, provida da Visão que os Imortais lhe ofereceram, estabelece um vínculo psíquico com o irmão Páris, podendo enxergar através de seus olhos, ainda que estejam separados por uma grande distância.

Após ser mandada para conviver entre as guerreiras amazonas, Kassandra, já mais velha, retorna à Troia decidida a entregar sua vida nas mãos dos Imortais, escolhendo a Apolo, o Senhor do Sol, como o merecedor de sua devoção. É nesse ponto da história que Páris também chega à cidade, fazendo com que o segredo sobre sua existência seja finalmente trazido a público. A partir disso, Kassandra começa a ter visões que prevêem a destruição de Troia, enxergando navios fantasmas na baía, além de fogo e morte. Tentada a avisar seus familiares e pessoas próximas, ela começa a ser considerada uma louca e portadora de maus presságios para casamentos e nascimentos, fazendo com que ninguém acredite em sua palavra. Quando o irmão Páris rouba Helena de Esparta e toma-a como esposa, os akaios, inimigos de Troia, iniciam uma guerra que perdura por muitos anos e por todas as próximas páginas do livro.

Esse resumo pode ter ficado um pouco confuso, mas tudo se deve (além da minha capacidade quase nula em resumir) à minuciosa narrativa de Marion Zimmer Bradley, que nos conta a vida não só de Kassandra, mas também de todos que fazem parte de sua história, com detalhes e muitos diálogos bem construídos. É importante ter em mente que o destino das pessoas e da cidade é sempre colocado nas mãos dos Imortais, que são considerados os grandes responsáveis pela guerra que é travada em terra. Também acho legal comentar que, assim como em As Brumas, é possível notar com extrema clareza o incessante feminismo que a autora emprega em sua narrativa, o que pode deixar a leitura um tanto pedante em algumas passagens. Contudo, isso não chegou a ser um empecilho real para mim.

Apesar de o livro conter pouco mais de 500 páginas, a leitura é complexa e particularmente lenta, fazendo com que o livro pareça ter quase o dobro disso. Algumas características da edição – como o diminuto tamanho das letras, o mínimo espaçamento entre as linhas e o grande número de palavras por página – facilitam essa lentidão. Entretanto, a autora tem uma escrita muito gostosa de acompanhar, pois prioriza os sentimentos e o processo de pensamento que levam às ações decisivas das personagens, a quem nos afeiçoamos facilmente. E, ainda que seu final não tenha me deixado completamente satisfeito, a ampla rede de acontecimentos foi capaz de me prender à leitura como poucos livros conseguiram, transformando O Incêndio de Troia no dono de uma das narrativas mais legais que pude acompanhar.

Obs: Não sou estudioso de mitologia, então não sei afirmar corretamente se os fatos narrados no livro correspondem ao que há na literatura mitológica mundial. Porém, nas minhas pesquisas pela internet pude ver que muito do que a autora escreveu está de acordo com o que é retratado na Odisséia e na Ilíada, os grandes poemas épicos de Homero. Ainda assim, não podemos esquecer de que o livro se trata de uma romantização, podendo reunir fatos deliberadamente modificados ou incluídos através da liberdade criativa da autora.

Por Jeff Pavanin

2 comentários:

  1. Eu tava louca pra ler sua resenha sobre esse livro, Jeffinho. Porque estou louca pra lê-lo. Tenho uma paixão enorme pela história de Tróia em sua derrota para os gregos, sinto uma comoção profunda que nem sei explicar. E adoro mitologia. ♥

    Confesso que só li um livro da Marion, mas já li bastante a respeito dela. Confio nas pesquisas dela. As coisas que você foi citando no decorrer da resenha eu já vi nos meus aprendizados de mitologia. Até porque na época dela não tinha Google. lol E essa mulher me impressionou muito com o que ela pesquisou pra Salto Mortal, e pelo que sei de As Brumas de Avalon.

    Enfim, quero ler! Eu ia cobrar uma resenha se você não fizesse!

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  2. Acredito que esse blog será uma boa referência sobre a MZB, pois As Brumas de Avalon é minha série favorita, mas eu não conheço tantos outros títulos da autora. Incêndio de Troia eu comprei quando foi lançado no fim de 2010 ou começo de 2011, não lembro direito, mas não li ainda =P

    Sobre a mitologia, acho meio redundante discutir a veracidade de um livro, sendo que até hoje não temos 100% de certeza sobre os tempos mais antigos, tanto que nem é totalmente comprovada a existência de Troia, Helena e até mesmo Homero, então, creio eu, acho que os autores têm o direito a uma certa licença poética, porque como podemos comprovar que estavam errados, certo?

    Abraços!

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