quarta-feira, 13 de março de 2013

[Resenha] A Viagem

Edição do box da Editora Novo Século.
Autor: Virginia Woolf
Editora: Novo Século
Páginas: 548

Eu sempre tive vontade de ler algumas autoras clássicas, mas na maioria das vezes me dava preguiça em começar algum romance. Porém, uma vez vencida a preguiça pude conhecer os universos criados por mulheres marcantes, tais como Agatha Christie e Virginia Woolf. Muita gente sabe que V. Woolf foi uma mulher de personalidade forte, e quem não é tão familiarizado (assim como eu) certamente já teve a oportunidade de assistir ao filme As Horas e observar de perto um período peculiar da vida da autora. Contudo, pra poder falar um pouco sobre ela e essa obra em particular, tomo a ajuda de Antonio Bivar, membro da The Virginia Woolf Society of Great Britain, que escreve o prefácio de A Viagem.

A Viagem marca o início da obra de Virginia Woolf, sendo o primeiro romance a ser escrito pela autora. O livro demorou cerca de 10 anos para ser escrito e publicado, e nesse período de tempo Virginia sofreu com a perda do pai, casou-se e mudou-se para Bloomsbury, onde finalmente pôde dedicar-se melhor à escrita do livro, que foi publicado pela primeira vez em 1915. Entretanto, antes desse período Woolf já havia passado pelo sofrimento da morte da mãe, da meia-irmã e também do irmão Thoby, o que desencadeou sérias crises depressivas e tentativas de suicídio, resultando em um longo internamento após a publicação do livro. Virginia iria ainda passar por diversos períodos difíceis em sua vida até seu suicídio em 1941, e muito do que ela sentia e pensava durante esses períodos pode ser claramente observado em suas obras.

Com A Viagem não é diferente. Através de um cunho autobiográfico, ela vai contar a história de Rachel Vinrace – uma então inocente moça de 24 anos, cujo pai é dono de navios cargueiros –, que parte em uma viagem a bordo de um dos navios do pai, o Euphrosyne. Rachel é educada sub a tutela de Helen Ambrose, irmã de sua falecida mãe, e passa a conhecer as verdades da vida através da convivência com pessoas a quem antes não estava acostumada. A viagem acompanha um pequeno grupo de pessoas, no qual Rachel e Helen se incluem, que ao fim do séc. XIX zarpam do porto de Santa Marina para desembarcar em uma villa burguesa da América do Sul, situada “na boca do rio Amazonas”. Lá o leitor se depara com muitas personagens, que se relacionam durante esse período em que todas estão longe de casa.

Com eles somos levados a diversas situações de gente que, sinceramente, não têm muitas preocupações na vida além de matar o tempo e fofocar sobre a vida dos outros ali presentes. Piqueniques, bailes, chás e passeios, sempre regados a uma boa conversa simples e sem compromissos. Nesse cenário tropical, Rachel começa a se desprender das pregas da sociedade tradicionalista da Inglaterra onde fora criada, aprendendo com Helen formas mais modernas de viver. Ela encontrará com homens que a desejam (Mr. Hewet), com mulheres a quem toma como exemplo a seguir (Clarissa Dalloway, protagonista do romance Mrs. Dalloway (1925), a quem Rachel conhece ainda a bordo do navio) e com figuras dispostas a discutir filosofia e o modo de vida burguês (Mr. Hirst).

Virginia Woolf nos transmite o processo integral de pensamento das personagens através da famosa técnica (hoje assim chamada) do fluxo de consciência, também usada por diversos escritores, como James Joyce, William Faulkner, ou até mesmo os brasileiros Clarice Lispector, Guimarães Rosa e Hilda Hilst, constituindo assim sua grande marca narrativa. Ela foge dos pensamentos de Rachel para também nos mostrar com transparência os de todas as outras personagens que se encontram na villa, ou mesmo no grande hotel que lá existe, a refletir sobre qual é o seu espaço no mundo.

Por fim, como um leitor iniciante na obra de Virginia Woolf, considero A Viagem um livro de grande importância pra quem deseja começar a ler a autora. Ele nos apresenta sua forma de escrever e narrar – que difere muito do que estamos acostumados a encontrar em autores mais recentes – e também, através do constante teor existencialista, uma nova e peculiar forma de olhar e refletir sobre nossas próprias vidas.

Por Jeff Pavanin

Nenhum comentário:

Postar um comentário